
[1]Grimaldo Patrício Ferreira
[2]Samuel Davi Garcia Mendonça
RESUMO
Produzidos em todos os estágios das atividades humanas, os resíduos, em termos tanto de composição como de volume, variam em função das práticas de consumo e dos métodos de produção. As principais preocupações estão voltadas para as repercussões que podem ter sobre a saúde humana e sobre o meio ambiente (solo, água, ar e paisagens). Os resíduos perigosos, produzidos, sobretudo, pela indústria, são particularmente preocupantes, pois, quando incorretamente gerenciados, tornam-se uma grave ameaça ao meio ambiente. Para pensar a problemática do lixo ligada à questão do desenvolvimento e estabelecer objetivos educacionais é preciso primeiramente entender o seu significado. Já foi evidenciado que o lixo é um problema planetário e por isso não se trata aqui de colocá-lo nesta ou naquela região da terra, vivemos em um planeta e o lixo não desaparece num passe de mágica.
INTRODUÇÃO
As estatísticas atuais apresentam o lixo como um dos maiores problemas da sociedade e das cidades modernas. A questão tem início nos hábitos e no modo de vida da população.
O lixo ainda não possui gerenciamento adequado e com isso aparecem inúmeras consequências ambientais, sociais e graves problemas de saúde pública. O impacto ambiental resultado do mau gerenciamento do lixo traduz-se na contaminação de solos, subsolos e cursos d’água; enchentes e erosões; grandes desgastes para a flora e a fauna; e na poluição.
Que tal pensar o lixo com visão no desenvolvimento? Como pensar a educação ligada ao desenvolvimento aliando recursos disponíveis e energia?
É de se ver de antemão que iniciativas pessoais, comunitárias e sociais interferem diretamente no setor econômico e são de grandeza planetária no tocante ao grande desafio da sustentabilidade e da produção de lixo.
Assim, a importância de se pensar na questão do lixo tendo o desenvolvimento como horizonte, mostra-se preponderante diante da coluna mestra da sustentabilidade.
Este trabalho tem por objetivo analisar as formas viáveis de enfrentamento de tão relevante problema que é a gestão do lixo, dos resíduos.
Destarte, o procedimento metodológico aplicado foi o de uma abordagem alicerçada na bibliografia relacionada ao tema, base da presente pesquisa.
Para melhor compreensão do tema, este trabalho está dividido em cinco capítulos, sendo que o primeiro deles trata dos antecedentes históricos mundiais acerca do lixo; o segundo, relaciona apontamentos sobre o lixo no Brasil; o terceiro, versa sobre o problema dos resíduos sólidos para os municípios; o quarto, aborda a questão do lixo, do desenvolvimento e da educação; e, por fim, o quinto, mostra o lixo como uma questão de justiça econômica e social.
1 BREVE HISTÓRICO SOBRE LIXO NO MUNDO
O surgimento do homem na superfície da terra trouxe consigo o início da produção do lixo. Os primeiros datam, de aproximadamente, três milhões de anos. Seiscentos mil anos atrás, na medida em que os homens começaram a raciocinar aconteceu o surgimento de novos métodos de sobrevivência, como a princípio, a coleta e mais tarde a caça. Milhares de anos depois o homem aprendeu a cultivar e as plantações surgiram acompanhadas da criação de animais em cativeiro deixando de ser nômades e formando sociedades.
Tudo isso vem acompanhado da produção de dejetos formados pelas sobras do que consumiam para a sobrevivência. Quando a humanidade começou a consumir mais do que o necessário para a sobrevivência os seus dejetos tornaram-se acumulativos e consequentemente prejudiciais.
Mais tarde o desenvolvimento piorou a situação do lixo. Quanto mais a população mundial se desenvolvia intelectualmente, mais ela crescia e mais dejetos eram produzidos. Mas foi a partir da primeira revolução industrial no século XVIII que a situação se agravou. A Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra e criou uma massa de operários que trabalhavam produzindo novos objetos. A cada ano que se passava novas técnicas surgiam e novos produtos eram feitos. O homem começava a ter um pensamento consumista e também começava a ganhar dinheiro para poder consumir.
Aliado a tudo isso, novas máquinas surgiram e essas necessitavam de um combustível. As fábricas começaram a usar novos combustíveis fósseis como carvão e mais tarde o petróleo, que possibilitavam o crescimento da produção ainda mais rápido. Esses combustíveis poluíam o ambiente na sua queima e principalmente na sua extração. A maioria das máquinas era a vapor e precisavam de madeira que se transformava em carvão para poderem funcionar.
Além dessa devastação causada pela Revolução Industrial, outro problema era claro e evidente no momento. Muitas dos produtos feitos nas fábricas foram feitos em larga escala e eram produzidos para consumo dos próprios trabalhadores e da população crescente mundial. Junto com o consumo vem o descarte. Aumentando a produção o consumo aumenta e a produção de lixo cresce também, criando um problema de difícil solução. O que fazer com as sobras? Então começaram a surgir os primeiros sérios problemas com o lixo que era jogado em rios, nos mares, enterrados ou jogado a céu aberto em locais afastados formando os lixões.
Após alguns anos o mundo viveu um período de seguidos confrontos entre nações. Foi o período entre a primeira a e segunda guerra mundial. Nessa época a humanidade teve um declínio, no que se diz respeito à economia, e a sociedade em relação ao meio ambiente. Todas as novas tecnologias eram voltadas para as guerras e havia grande produção de lixo. A guerra resultou numa divisão do mundo que durou até as décadas de oitenta e noventa, onde o capitalismo teve seu apogeu.
Durante a chamada Guerra Fria, resultado do conflito, onde comunismo e o capitalismo disputavam sua ação junto aos países do pós-guerra, sobretudo os europeus, novas tecnologias surgiram. Elas tinham como objetivo a superioridade tecnológica por parte de uns sobre os outros, sejam elas de cunho militar ou para a população civil.
Nesses anos aconteceram os maiores agravamentos em termos de problemas ambientais, principalmente, por causa do lixo. A população crescia e consumia cada vez mais. Os produtos eram cada vez mais descartáveis sendo sempre substituídos por melhores. Foram também as décadas da corrida espacial e das novas tecnologias da indústria bélica. Nenhuma preocupação com lixo era considerada tão importante, devido às tensões causadas pelas duas grandes potências, do lado capitalista os Estados Unidos e do lado comunista as União Soviética, que sempre chamavam mais atenção da mídia e dos políticos.
Após a década de oitenta, com o fim da Guerra Fria uma série de problemas ambientais foram percebidos em todo mundo, inclusive o do excesso de lixo nas grandes cidades. O problema se agravou com o crescimento da economia americana e com a descoberta de novas tecnologias ligadas ao petróleo, principalmente devido à produção de plástico. Assim, o consumo cresceu e o descarte de resíduos não só por parte da população, mas como também das indústrias se tornou um dos maiores problemas da humanidade.
O lixo é matéria-prima fora do lugar. A forma com que uma sociedade trata seu lixo, dos seus velhos, dos meninos de rua e dos doentes mentais atesta o seu grau de civilização. O tratamento do lixo doméstico, além de ser uma questão com implicações tecnológicas, é antes de tudo uma questão cultural. GRIPPI (2001)
Hodiernamente, a produção de resíduos sólidos no mundo chega a 2 milhões de toneladas por dia, 730 milhões de toneladas ao ano.
Ano após ano, a quantidade de resíduos e produtos que se tornam lixo aumenta. Apenas o Japão e a Alemanha diminuem a relação lixo por habitante (TEIXEIRA, 2004).
Estados Unidos geram 230 milhões de toneladas ao ano. Nova York gera 14 mil toneladas diárias, 5.110.000 toneladas ao ano; somados ao Canadá e países ocidentais da Europa, atinge-se 56% do total mundial. A América Latina produz 100 milhões de toneladas ao ano, 13% do total mundial.
Nos países do hemisfério norte (mais ricos), a média é a produção de 1,9 Kg por pessoa; em alguns países o número chega a 2,0 Kg ou mais.
Nos países do hemisfério sul (mais pobres), os números variam de 1,0 Kg por pessoa e podem chegar a 0,3 Kg por dia ou menos.
A condição socioeconômica é diretamente ligada à produção dos resíduos.
2 ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE O LIXO NO BRASIL
O Brasil gera cerca de 150.000 toneladas diárias de resíduos (CALDERONI, 1997). Cada indivíduo produz 1,0 Kg de lixo diariamente. A cidade de São Paulo gera entre 12.000 e 14.000 toneladas diárias de resíduos. As 13 maiores cidades são responsáveis por 31,9% de todo o lixo urbano brasileiro. O número de crianças nos aterros chega a 45 mil. A estimativa é de que existam entre 200 mil a 800 mil catadores trabalhando em depósitos a céu aberto ou nas ruas.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE, 2000: 125.281 mil toneladas de resíduos são coletadas diariamente, onde 30,5% vão para lixões, 22,3% para aterros controlados e 47,1% vão para aterros sanitários (ampliando em 40% o volume de 1995). Portanto, no mínimo 52,8% dos resíduos são depositados de forma inadequada uma vez que aterros controlados não são a forma mais segura de depósito final e sua fragilidade expõe facilmente os mesmos problemas dos lixões.
A maior parte dos municípios (3.502), 63,6% destinam os resíduos para lixões. Os aterros e lixões recebem juntamente os resíduos de diferentes origens: residenciais, hospitalares, industriais e de construção civil. Do total, 2.569 cidades vazam o lixo hospitalar no mesmo aterro dos resíduos urbanos.
Os resíduos perigosos industriais chegam a 2,7 milhões de toneladas ao ano (IBGE). A maior parte do sul e do sudeste. Apenas 20% têm destinação correta em aterros sanitários e incineração.
Os resíduos dos veículos automotores são responsáveis por 85% da poluição atmosférica.
Do total, 15% dos domicílios brasileiros não têm coleta; portanto, 20 mil toneladas diárias aproximadamente são dispersados nas ruas, galerias, cursos d´água (TEIXEIRA, 2004).
As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba em pouco tempo não terão como receber mais os resíduos em seus aterros.
Os resíduos orgânicos representam 69% do total descartado no país. São 14 milhões de toneladas de sobras de alimentos segundo o Ministério da Agricultura, por procedimentos inadequados durante a produção, industrialização, armazenagem, transporte e distribuição. Poderiam ser alimentados com as sobras desperdiçadas, 19 milhões de pessoas, diariamente.
3 O PROBLEMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS PARA OS MUNICÍPIOS
A preservação do meio ambiente, e mais, especificamente, a disposição final de resíduos sólidos, conhecidos por lixo, na atualidade são caracterizados como uns dos maiores problemas enfrentados, por consequência, uma das maiores preocupações da sociedade e dos administradores públicos.
Nesse sentido, a população se move num constante crescimento produzindo em média 0,50 Kg de lixo, por pessoa ao dia; gerando ao longo do tempo, um volume cumulativo cada vez maior de resíduos sólidos, cuja destinação final continua inadequada, ficando cada vez mais difícil o controle do buraco na camada de ozônio. Por sua vez, no caso da população brasileira, que soma aproximadamente 180 milhões de pessoas, tendo perfil predominantemente urbano, exige-se a coleta e a sua destinação final. Cerca de 35 milhões de toneladas de resíduos sólidos produzidos durante o ano ficam sem o tratamento devido.
Os critérios técnicos exigidos para a disposição final ou um aterro ambiental sustentável, sem riscos, apresenta um alto custo para sua implantação, e esses custos são decorrentes de dificuldades de operacionalização, inclusive, a escolha de um local apropriado para sua alocação. Na verdade, o principal problema se faz pela necessidade urgente da cobertura diária, com terra, para se evitar a proliferação de mau cheiro, praguejamento de insetos e roedores, causados pela lavagem direta da chuva. Para tanto, faz-se necessário para sanar os entraves da mobilização de um trator diariamente para disponibilizar a terra, que muitas vezes, só é encontrada em locais distantes do aterro, ou o uso de uma carregadeira para remover a terra ou transportá-la numa tombadeira, e mais, um trator para espalhar essa terra no aterro, compactando cada célula. Além destas dificuldades, os pequenos municípios, são fortes indicadores dos entraves, pois, a escala do aterro nesses locais, resulta em altos custos por tonelada, para a disposição final dos resíduos sólidos urbanos e, sua receita não dá para atender um investimento de tal envergadura.
Para se eleger um local ideal para essa destinação final dos resíduos sólidos, devem-se levar em conta: as restrições orçamentárias; a escassez de máquina e os equipamentos próprios e necessários para essa operação. Essas dificuldades supracitadas tem como resultado a proliferação dos lixões a céu aberto.
No entanto, os resíduos dispostos a céu aberto além de caracterizar problemas ambientais causam mau cheiro, proliferação de insetos, contaminação do solo, do lençol freático, dos cursos de água, agressão visual e natural, produção de metano que afeta a camada de ozônio, ainda mais, o ambiente é propício para atrair um contingente de catadores de lixo: homens/mulheres/crianças, que procuram no aterro e/ou disposição final, sua subsistência, e por vezes, a alimentação dos seus animais domésticos, ou mesmo, sua própria alimentação, resultando assim, sérios problemas de saúde pública.
De modo geral, além dos catadores dos lixões, outro contingente são pessoas que percorrem as ruas e avenidas dos centros urbanos e suburbanos buscando sua subsistência, através da prática de uma coleta antecipada de metais, papel, papelão, recipientes de alumínio, plástico, vidro etc.. Esse fato também ocorre nos grandes centros metropolitanos até a cata de alimentos para uso pessoal, como ocorre nas zonas urbanas e suburbanas.
Essa disposição inadequada do lixo tem sido uma preocupação constante dos órgãos ambientais, e das promotorias do meio ambiente, levando aos dirigentes municipais a imposição das penalidades severas, podendo chegar inclusive à prisão decretada por crime ambiental.
Uma série de tomada de decisões em termos de ajuste tem sido assinada nos últimos tempos, movendo os municípios e órgãos ambientais visando tão somente controlar e buscar solução para regularização desses entraves existentes.
4 O LIXO, O DESENVOLVIMENTO E A EDUCAÇÃO
Para pensar a problemática do lixo ligada à questão do desenvolvimento e estabelecer objetivos educacionais é preciso primeiramente entender o seu significado. Já foi evidenciado que o lixo é um problema planetário e por isso não se trata aqui de colocá-lo nesta ou naquela região da terra, vivemos em um planeta e o lixo não desaparece. Talvez possa se pensar em jogá-lo no espaço, mas logo surgirá a questão: não vivemos em um sistema solar? Talvez arremetê-lo ao sol? É possível, mas vamos interagir ainda sob nossos horizontes. Que tal pensar o lixo com visão no desenvolvimento? Como pensar a educação ligada ao desenvolvimento aliando recursos disponíveis e energia?
A compreensão do que é lixo mudou. Constatou-se até aqui que antes da revolução industrial a problemática que envolve essa discussão não foi considerada, mas a partir da mesma, da produção em série e da globalização, não há como ignorar a importância do debate, de conhecer projetos ambientais e ampliar a mudança de atitude frente a esse desafio.
Em tempos de outrora era comumente considerado lixo todo o material sem utilidade para o homem, ou seja, tudo aquilo que ninguém quer. Hoje se pode pensar em um novo conceito, pois aquilo que era considerado sujo, feio e quebrado pode ser reciclado. De modo geral, as pessoas ainda estão longe de conhecer e nomear os tipos de lixo, quando muito sabem, separam o lixo seco, o molhado, papel, papelão, lata, vidro, plástico e alguns outros considerados resíduos urbanos.
A questão central é que a produção de lixo esta aumentando assustadoramente em todo o planeta. Isso, conforme analisado dá-se em decorrência lógica da urbanização, industrialização e do acesso aos bens de consumo. Mas, um outro dado relevante é que a grande maioria dos ambientalistas e simpatizantes sabem que temos um legado histórico de inconsequentes atitudes humanas individuais, comunitárias, da atividade industrial e extrativista de degradação, poluição e intoxicação do meio ambiente. São resíduos das mais variadas classes lançados diretamente ao solo, ao longo de muitos anos, irresponsavelmente.
Paralelamente a essa situação temos também iniciativas individuais, comunitárias e empresariais de preservação e, até mesmo, de retirada dos resíduos indesejáveis colocados sem cautela na natureza.
Em conformidade com a lei de Newton que para toda ação temos uma reação, conheça a iniciativa do Senhor Antônio (nome fictício) que mediante a situação de desemprego, acompanhando o tratamento do seu filho doente - que tinha a prescrição médica de realizar caminhadas periódicas -, e ainda como única fonte de renda o salário mínimo de sua esposa, reservado apenas para a alimentação e despesas substanciais.
Sr. Antônio observou que o seu bairro estava muito sujo e que havia locais de muita acumulação do que chamaríamos de lixo. Verificou que havia catadores, mas que estes apenas se interessavam pelas latinhas (de refrigerantes, cervejas e outros). Numa atitude de unir a necessidade e a oportunidade, construiu um carrinho (desses de catadores) e começou, juntamente com seu filho, a recolher o material reciclável do seu bairro.
O leitor poderia parar o seu encontro com essa experiência aqui dizendo: que bom ele encontrou uma alternativa, altruísmo. Mas, compartilhe do resultado deste feito. Após as primeiras investidas, nosso empreendedor, notou que o lugar onde lhe compravam os materiais recolhidos, pagava-se mal por aquela matéria e que o interesse era apenas encher um caminhão, que levariam para algum lugar, ou seja, sem idealismo ou um mínimo de conhecimento sobre a importância do trabalho.
Como membro de uma Comunidade Eclesial ele procurou o conselho desta para trocar algumas ideias sobre o que poderiam fazer para dinamizar e favorecer aquele processo.
Entre idas e vindas a esse conselho surgiu uma ideia de se criar uma associação de catadores, para que pudessem, organizadamente, juntar os materiais recicláveis, realizar uma triagem e comercializá-los com um dos destinatários.
Mas, como realizar um encontro desses, convidar e associar catadores e, o principal, onde colocar aquilo que era recolhido?
Eram muitos problemas e demandaria um processo de análise sistemática. Partiu-se de um olhar próximo ao catador, do seu instrumento de trabalho: o carrinho. As comunidades do conselho através dos seus vários contatos com atacadistas, varejistas e benfeitores daquela região conseguiram patrocinar a construção de oito carrinhos e a partir daí divulgou-se uma reunião para os catadores, vislumbrando o sorteio desses carrinhos. No dia marcado compareceram cerca de trinta catadores, muitos curiosos e outros membros de associações.
Realizou-se uma palestra seguida de um debate sobre a importância da comunidade colaborar com os catadores, mas categorizou-se também o compromisso dos catadores de não espalhar o lixo das sacolas sobre a calçada.
Percebeu-se que a comunidade rejeitava esse serviço e até mesmo desprezava-o devido à atitude impensada e incoerente dos próprios catadores.
O dia foi de aprendizado e os desafios ficaram longe de acabar. Grande parte dos catadores associou-se, mas era preciso que pessoas ligadas a ONG’s os orientassem para como estabelecerem-se como associação legalmente aceita, com estatuto, eleição da diretoria, registros, conselho fiscal e demais providências.
Conseguiram alugar, com ajuda da comunidade para o primeiro mês, um galpão que outrora fora uma oficina e o trabalho da associação teve seu início.
Mas outras dificuldades começaram a aparecer: faltava uma balança para pesar o que cada um conseguia, o critério e o conceito para a separação e triagem dos materiais não estava bem formado, quem iria controlar o que cada um trazia, entre outros. A comunidade foi acionada a intervir novamente através de voluntários em determinadas horas para essas atividades.
Outro problema que surgiu pouco tempo depois foi a reclamação dos vizinhos que não toleravam tanto material próximo de suas residências alegando o aparecimento de roedores e insetos. Essa situação foi resolvida quando mudaram para um galpão maior.
Como desfecho dessa narrativa alguns pontos devem ser considerados dentro da perspectiva do reaproveitamento de materiais, desenvolvimento e educação.
O primeiro é a mudança de concepção do que realmente é reciclável, partiu-se de um conceito restrito uma lata de refrigerante ou cerveja, para papel, papelão, vidros, plástico, embalagens, latas, ferro e outros.
O segundo ponto situa-se na promoção das pessoas envolvidas e suas famílias, em menos de um ano, nove famílias em situação de risco social se envolveram e conseguiam mensalmente 1 (um) salário mínimo por família.
Outra coisa é o investimento na própria associação compraram uma máquina de prensar pra facilitar a organização e o transporte. Supermercados e outros varejistas começaram a mudar sua atitude frente as embalagens e outros recicláveis, entenderam que era dinheiro jogado fora. Mas a melhor mudança notada foi no comportamento das pessoas frente ao novo desafio, o terceiro ponto. Os próprios catadores conversavam com os moradores sobre o que era lixo e o que era reciclável e após a confecção de um folder fizeram um notável trabalho de conscientização. As famílias já separavam o que era para os catadores e o que devia ser recolhido pelo serviço de limpeza urbana.
Outro destaque que acontecia nas reuniões, assembleias e confraternizações era o momento estudo, sempre levavam alguém para palestrar sobre economia doméstica, sustentabilidade, nutrição. Certa vez conversaram sobre os danos que uma pilha alcalina e baterias traziam ao solo e subsolo e, imediatamente, os catadores empreitaram uma retirada desse material quando pelo desenvolvimento das suas atividades e exigiram da secretaria de meio ambiente a destinação daquele material.
Muitas outras histórias de vida foram omitidas nesse breve relato, mas o principal foco dessa experiência une o lixo, a educação e o desenvolvimento como um viés alternativo de mudança.
Parece pouco ou insignificante mediante o contexto mundial e nacional até então analisado, mas ao se pensar em termos de educação que envolve mudanças de atitudes, ou seja, quando a pessoa aprende muda o jeito de fazer e agir, então abrem-se expectativas ou alternativas.
5 O LIXO, UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA ECONÔMICA E SOCIAL
Ampliando ainda mais a questão pode-se observar e conferir os registros dos gastos feitos na saúde pública e, com facilidade, relacioná-los ao surgimento de tantas endemias ou mesmo epidemias, cujas origens reportam ao saneamento básico com implicações correlatas ao problema do lixo.
Uma das epidemias mais conhecidas é a dengue, que segundo o Ministério da Saúde numa vistoria feita em mais de 1,2 mil municípios brasileiros, 375 destes estão em situação de alerta porque entre 1% e 3,9% dos imóveis visitados tinham focos do mosquito transmissor da dengue.
De acordo com o IBGE
O indicador de acesso ao serviço de coleta de lixo doméstico apresenta resultados mais favoráveis ao desenvolvimento sustentável que os demais indicadores de saneamento. Em 2009, 98,2% dos moradores em áreas urbanas tiveram seu lixo coletado.
Pelo visto o serviço de coleta aumentou, mas problemas relacionados a saúde, com matrizes na poluição ambiental, continuam crescentes. Uma observação simples, no caso da dengue, com a chegada do verão, pode comprovar tal afirmação. O desafio esta na educação, pois uma tampinha de refrigerante, que não tem sua destinação correta, pode servir de criadouro para o mosquito transmissor.
O IBGE também constata que aumentou o índice da reciclagem no país:
O alumínio permaneceu como destaque da reciclagem nacional, com percentual de 98,2% em 2009, o mais alto da série histórica iniciada em 1993. Esse valor elevado reflete o alto valor de mercado da sucata de alumínio. No Brasil, a reciclagem é uma alternativa econômica para a população de baixa renda. O papel, o vidro, a resina PET e as latas de aço, de mais baixo valor de mercado, apresentam índices de reciclagem entre 47% e 55%, menores que as latas de alumínio, apesar de continuarem em ritmo de crescimento.
Mas, evidencia que
As embalagens cartonadas e tetrapak permanecem no patamar mais baixo da reciclagem, com queda registada de 26,6% em 2008 para 22,2% em 2009. A necessidade de separar os materiais componentes (papel, alumínio, plástico) é um fator que dificulta a reciclagem desse tipo de embalagens. A melhor forma de ampliar os níveis de reciclagem de materiais no Brasil é ampliar a coleta seletiva.
A reciclagem, como visto, é uma alternativa econômica para a população de baixa renda, e situa-se também na economia pública quando infere-se a questão da saúde. O objetivo até aqui é demostrar que é um investimento acreditar nas pesquisas relacionadas à reciclagem e concomitantemente ampliar e valorizar as iniciativas de associações e outras organizações em prol da economia e da educação no trato consciente da destinação do lixo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apregoa–se que iniciativas pessoais, comunitárias e sociais interferem diretamente no setor econômico e são de grandeza planetária no tocante ao grande desafio da sustentabilidade e da produção de lixo. A produção industrial, a reciclagem, o desenvolvimento entrelaçam-se e constroem-se a partir da educação e da edificação de bons hábitos dentro da ética consolidada pelo zelo do que é de todos. “Omni omnibus” – tudo para todos, ou seja, todos tem o direito de usufruir e participar dos bens de consumo, pois participam igualmente das responsabilidades inerentes ao processo de sua produção e com isso os investimentos em educação e qualidade de vida passam da dimensão do TER capitalista, para o SER membro de uma humanidade responsável. Em outras palavras, o lixo torna-se uma questão de justiça equitativa e distributiva, não pode ser jogado sobre alguns, mas deve ser considerado por todos.
Por fim, conclui-se este trabalho afirmando que muito ainda poderá ser pesquisado sobre o assunto, mas que as ações aqui apresentadas consistem em solução imediata bastante razoável e significativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALDERONI S. Os Bilhões Perdidos no Lixo. São Paulo: USP, 1997.
GRIPPI, S. Lixo, Reciclagem e a sua História: Guia para as prefeituras brasileiras. Rio de Janeiro: Interciência, 2001.
IBGE - Instituto de Geografia e Pesquisa. Brasília.
TEIXEIRA, A. C. A Questão Ambiental – Desenvolvimento e Sustentabilidade. Rio de Janeiro: FUNASEG, 2004.
[1] Mestrando em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional – Faculdade Vale do Cricaré
[2] Mestrando em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional – Faculdade Vale do Cricaré
A falta investimento pode prejudicar a pesquisa científica?